Nosso patrimônio...
Lajedo do Pai Mateus - PB |
A tendência natural do homem é olhar com desprezo as construções antigas, vendo-as como bens ultrapassados e desatualizados, os quais devem ser demolidos e ceder lugar a edificações mais modernas e arrojadas, mais úteis ao desenvolvimento da cidade. Esse tipo de pensamento impacta frontalmente a ideia de preservação, de valorização do patrimônio como herança histórico a ser preservada. O cuidado com os bens patrimoniais visa resguardar a memória, dando importância ao contexto e às relações sociais existentes em qualquer ambiente. Não é possível preservar a memória de um povo sem, ao mesmo tempo, preservar os espaços por ele utilizados e as manifestações quotidianas de seu viver.
A noção de patrimônio histórico, como salienta Maria Célia Paoli, 9 deveria evocar as dimensões múltiplas da cultura como imagens de um passado vivo: acontecimentos e coisa que merecem ser mantidos ma memória e preservados porque são coletivamente significativos em sua diversidade; porém o que ocorre, como observa a mesma autora, não é exatamente isso, pois quando se fala em patrimônio histórico, pensa-se quase sempre em uma imagem congelada do passado, em algo como um museu repleto de objetivos antigos, que estão ali apenas para atestar uma herança coletiva.
Esse preservar da memória não está ligado apenas à conservação de relíquias antigas ou edificações, mas também à preservação de toda uma história, todo um caminho percorrido pela sociedade, desde seus tempos mais remotos até aos dias de hoje, interligando-os pela sua importância nesse processo de contínuo movimento e constante transformação.
É possível observar que muitas vezes, por motivos meramente comercias, prefere-se demolir o velho, por considerá-lo impróprio, e substituí-lo pelo novo, mais contemporâneo e funcional, mais adequado às necessidades da vida moderna, sempre exigente em suas demandas. Ao historiador cabe a tarefa de recuperar essa memória. A história oficial lembra-se de preserva e cultuar apenas a memória do vencedor produzindo documentos e construindo monumentos relacionados apenas a personalidades políticas de grande vulto cujos nomes são dados a ruas e praças, e desta forma a memória do país se torna a memória do dominador e de seus feitos. É ofício do historiador dar voz aos vencidos, não admitindo que essa rica herança da diversidade humana seja relegada ao esquecimento e silenciada pelo poder do vencedor.
CUNHA, Maria Clementina Pereira. (Org) O Direito à Memória: petrimônio histórico e cidadania.
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