Narrando a aproximação das idéias socialistas, mas especificamente da filosofia política marxista, é o que caracteriza as obras do autor, principalmente a História Econômica do Brasil. Em algum momento este marxismo irá se mostrar explícito, como nos capítulos dedicados à transição do Império para a República. O carater marxismo exarcebado é justificável considerando-se a época que o livro foi escrito e as idéias em voga nos círculos intelectuais daquele período. Assim, o autor nos apresenta os fatos sob um ponto de vista teórico diferente, que nos incita a pensar sobre a real exploração que nosso país sofreu.

PRELIMINARES (1500-1530)
A descrição geográfica do nosso país-continente logo deixa claro o porquê da formação dos povos e culturas onde eles se formaram. Na visão de Caio Prado nada é por acaso, mas é como deve ser, pois as influências são nitidamente físicas. Os capítulos sobre a exploração europeia pela costa e pelo interior deixa isso muito claro, como o motivo da extração do pau-brasil ter sido feita em portos temporários pelo perigo em se aventurar mais ao fundo e pelos ataques constantes dos indígenas e outras nações. A mesma coisa pode-se dizer das diferenças no clima, o que determinou o povoamento diferenciado das regiões Sul/Sudeste e Nordeste/Norte, além nas facilidades de navegação pelo rio Amazonas.

A OCUPAÇÃO EFETIVA (1530-1640)
As tentativas de se firmar no continente e desbravar maiores riquezas é descrito nessa parte com mais detalhes, inclusive as batalhas com indígenas e as dificuldades de conseguir pessoas dispostas a viverem em situações adversas de Portugal. A cana-de-açúcar entra como a cultura predominante, e todo o resto vira economia acessória. Esse padrão, como veremos, irá sempre se repetir com outras culturas durante a história colonial do país, como se nunca tivesse havido uma administração que pensasse no longo prazo. Mais uma vez, nada mais natural, visto que o Brasil representava nesse momento a possibilidade de extrair riqueza de povos nativos e sem ambição, riqueza essa em escassez para os povos da Europa.

EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO (1640-1770)
O risco das outras nações obterem o território de Portugal fez com que o governo da metrópole finalmente tomasse as rédeas da colonização, intensificando-a, embora utilizando os mesmos planos que a longo prazo estariam fadados ao fracasso. A cultura extrativista, como sempre é observado pelo autor, não possui tecnologia alguma, embora em outros lugares do mundo essa tecnologia já existisse.
Nesse momento entra em cena a descoberta de minerais preciosos no Centro-Sul do país, quando Portugal, já obviamente interessado nas riquezas da colônia, transporta todo o sistema burocrático de Portugal para o Brasil, intensificando cada vez mais o controle da extração das minas. Uma riqueza incomensurável é retirada do país a troco de nada: a colônia continua tão primitiva e miserável quanto antes. O imposto real é muito alto, e há uma cobrança fixa, não-proporcional, que conforme a queda dos minerais ocorria, onerava cada vez mais a população. Há o primeiro momento de revolta do povo, situação que consegue fazer valer algumas alterações no modelo de administração.
Paralelamente a pecuária se desenvolve no Nordeste. Assim como o açúcar, o extrativismo mineral do centro do país exigia o desenvolvimento secundário de recursos para abastecer o mundaréu de gente que se formou em torno da região. O país crescia por demanda, desorganizadamente. A entrada pelo interior do Nordeste terminou pela descoberta da floresta amazônica e seus abundantes rios. A pesca se desenvolveu na região, mas a floresta densa impedia seu povoamento.

APOGEU DA COLÔNIA (1770-1808)
Mais duas culturas começam a se desenvolver: o algodão. Reflexo, mais uma vez, de Minas Gerais. Conforme os minérios foram se escasseando, a população, que em muito cresceu, começou a se voltar para a agricultura, renovando inclusive os decadentes engenhos de açúcar. A pecuária renasce, mas em outra região: o Sul. Os conflitos próximos das ainda inexistentes fronteiras ajudou a planificação de um povoamento mais organizado vindo de Portugal, além do desenvolvimento mais fragmentado de sua pecuária nos vastos campos da região. É preciso, por final, lembrar do tráfico de escravos, mais forte que nunca, e usado como moeda entre as diferentes regiões do país.
A ERA DO LIBERALISMO (1808-1850)
A transferência da coroa portuguesa marca o fim da colônia e o nascimento do império. Essa transferência, como se sabe, foi mais uma fuga de uma decadente Portugal. Conflitos na Europa determinam o destino da colônia/império brasileiro, inclusive o fim do tráfico de escravos, influência e desejo direto do império britânico. Não se entra nos detalhes do motivo, mas nas consequências para o país, que precisava muito crescer, mas que agora carecia de mão-de-obra.

O IMPÉRIO ESCRAVOCRATA E A AURORA BURGUESA (1850-1889)
Há o crescimento da lavoura cafeeira na região do Sudeste, o que eleva mais uma vez a economia do país. Como o tráfico foi proibido, houve um incentivo à imigração, que bateu de frente com os escravos ainda existentes, colaborando ainda mais para a decadência do regime servil. O que se segue é uma longa batalha até o fim da escravidão, em um dos melhores momentos do livro, detalhado e que descreve as mudanças da sociedade na época.

A REPÚBLICA BURGUESA (1889-1930)
A transição do país para a república não foi sem dor. As dívidas astronômicas se somam, e as crises no mundo capitalista agora batem de frente com uma nação ainda mal formada. O regime imperialista que se forma já começa a limitar o crescimento do país, e o aumento progressivo das dívidas só piora a situação de uma economia, como já visto, só voltara para o extrativismo.
A CRISE DE UM SISTEMA (1930-1970)

A partir da queda do café em 29 e dos resultados da Segunda Grande Guerra é possível visualizar o capitalismo/imperialismo mudando rapidamente e oprimindo fortemente qualquer outra economia subdesenvolvida. O “sistema”, de acordo com Caio Prado, é cruel e não tem nome. Multinacionais tomam conta de um crescimento orquestrado artificialmente pelo aumento de crédito como consequência de dívidas cada vez maiores feitas no exterior. Entra em cena o FMI e o conservadorismo dos países. Até a década de 70 e a ditadura a miséria da parte baixa da sociedade irá se alastrando, alargando as diferenças com uma classe burguesa cada vez menos politizada e mais “europizada”. Essa tendência te lembra alguma coisa? Talvez a história, como a conhecemos, continua caminhando lentamente em cima da ilusão do milagre brasileiro.

Fonte - Caio Prado Junior, História Econômica do Brasil.

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